[Atenção! Esse texto pode conter Spoilers leve do filme, por mais que eu tenha evitado]
Quando a Marvel anunciou o filme Thunderbolts, muita gente torceu o nariz. Muitos disseram que era o clássico “filme que ninguém pediu”. Mas, sinceramente, esse não foi o meu caso. Mesmo com a queda de qualidade nas últimas produções, continuo recebendo com entusiasmo qualquer novo projeto, seja da Marvel ou da DC — sempre com esperança de que algo bom venha daí.
Apesar de ser uma equipe que nem nos quadrinhos empolga tanto, no cinema a desconfiança era ainda maior. Com o histórico recente da Marvel e a escolha dos personagens que compõem o grupo, tudo indicava que seria mais um filme genérico, feito só para preencher calendário.
Mas não foi isso que aconteceu. Thunderbolts se revelou uma grata surpresa.
Mas e o filme?
Os personagens fazem sentido dentro da narrativa, e o tema escolhido para contar essa história não poderia ser mais adequado. A trama começa com Yelena Belova, mergulhada em apatia, vivendo um dia de cada vez, alternando entre missões e momentos de autodestruição, sem perspectiva de futuro. O filme sugere, de forma sutil, que ela vive um quadro depressivo.
Em busca de apoio, ela procura o Guardião Vermelho — seu “pai” —, mas ele, mais preocupado com fama e dinheiro do que com sentimentos, pouco consegue ajudar. Ainda assim, durante a conversa, ele solta uma frase que marca Yelena: a ideia de que ela deveria buscar reconhecimento por seus atos, em vez de fazer tudo nas sombras. Isso acende algo nela, que decide propor um acordo com Valentina Allegra de Fontaine, sua “chefe”: ela aceita uma última missão, com a condição de que as próximas sejam mais públicas.
E é a partir daí que a trama se desenrola.
Muitas cenas estão nos trailers, mas como é típico da Marvel, há manipulação de contexto — personagens aparecem onde não estavam, ou o contrário. A narrativa é conduzida com cuidado, e cada integrante da equipe tem seus próprios fantasmas. Seja alguém forçado a um passado violento, como o Soldado Invernal, ou alguém como a Fantasma, moldada pelas circunstâncias, todos carregam traumas que os tornam humanos. O filme trata a depressão como um subtema recorrente, enquanto o foco principal é a formação da equipe — à la Vingadores de 2012.
A atuação também é um ponto alto
Florence Pugh está ótima no filme, e sua personagem é, de longe, a que mais recebe destaque. A atriz, indicada ao Oscar, brilha nas cenas de drama, especialmente ao lado de Lewis Pullman, que também entrega uma performance marcante. Ele consegue expressar com sensibilidade as nuances emocionais do confuso e depressivo “Bob”, além de contrastar bem com o lado confiante do Sentinela e o sombrio do Vácuo. Essa dualidade dá peso à história e fortalece o tom psicológico que permeia o longa.
E ele acerta nos dois pontos. O roteiro desenvolve bem as interações entre os personagens, e é nas farpas trocadas que vemos surgir o respeito. Em relação à depressão e até à bipolaridade, o longa toca nos assuntos com sensibilidade, sem transformar em tabu. Mostra que, mesmo nos momentos em que parece que estamos no fundo do poço, é possível contar com alguém e se apoiar em quem está por perto.
Até a fotografia acinzentada, já conhecida dos últimos filmes da Marvel, aqui faz sentido. O tom sombrio reflete o vazio, a opressão e o peso emocional que a narrativa carrega. E, aliás, o “vazio” é um tema recorrente na metade do filme.
O vilão
O embate com o vilão — extremamente poderoso — também é surpreendente. Quando os trailers saíram, a dúvida era inevitável: como um grupo de super-soldados genéricos vai lidar com alguém quase divino? Mas o filme resolve essa questão de maneira muito mais eficaz do que Capitão América 4, que tentou e falhou em um confronto semelhante.
Outro destaque vai para a construção das relações interpessoais. O filme não tenta forçar uma química artificial — ele deixa que os laços se construam com o tempo, através de conflitos, provocações e aprendizados. Isso torna tudo mais crível e próximo do espectador. Há momentos em que a equipe parece prestes a desmoronar, mas são justamente essas rachaduras que ajudam a moldar a força do grupo.
Direção acerta em não exagerar em fã service nem humor.
Além disso, Thunderbolts não depende de fanservice barato ou participações especiais para funcionar. Ele confia na própria história e nos personagens que tem. É como se dissesse: “Esses são os que temos, e vamos fazer algo bom com eles.” E consegue.
Vale elogiar também a direção de Jake Schreier, que entrega uma obra mais contida, sem exageros visuais ou humor em excesso — algo que vinha saturando as produções recentes da Marvel. O humor aqui é pontual, encaixado nos momentos certos, e usado para revelar algo sobre os personagens, e não apenas para arrancar risadas.
E por fim, uma das coisas mais importantes: o filme tem coragem de ser mais humano. Em vez de prometer grandes batalhas cósmicas e ameaças interdimensionais, ele aposta no íntimo, no quebrado, no imperfeito. E isso faz toda a diferença.
O que achei do filme?
Não posso revelar mais sem entregar spoilers, mas posso garantir: Thunderbolts é Marvel raiz. Lembra aquela época de Vingadores 1, quando a gente não esperava tanto — e saía do cinema completamente satisfeito. Fazia tempo que eu não me importava tanto com personagens, que não sentia essa mistura de empolgação, tensão e alívio. O final entrega, a cena pós-créditos é excelente (vou comentar depois em outros posts), e o melhor: o filme tem começo, meio e fim. A pós-créditos é só o “além-fim”, digamos assim.
Se puder, vá assistir no cinema. Você não vai se arrepender. E, se possível, evite spoilers — essa experiência vale a pena ser vivida na surpresa.
Nota do crítico
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